“Aaaaaaaai”. São 6h05m da manhã de sábado, e o berro é poderoso. Tal qual o bloco que em três horas sairá da Avenida Presidente Antônio Carlos. “Lembra o nosso combinado, amiga?”, pergunta Anitta. “Quero ficar linda, mas viva. Trancinha bem levinha”, diz à cabeleireira, que puxava os fios com força. Além dela, a entourage da cantora tem maquiador, stylist, fotógrafo pessoal, fonoaudióloga, assessor de imprensa e seus respectivos assistentes. O encontro acontece no quarto do hotel Prodigy, local escolhido para a entrevista coletiva do Bloco das Poderosas. Em instantes chegarão Sabrina Sato, Jojo Todynho, Nego do Borel e Giovanna Ewbank, entre outros amigos de Anitta, todos paramentados com figurinos usados pela cantora em nove dos seus clipes.
“Essa moça do seu lado é a Érika Bronze, a rainha das lajes” diz Anitta, sobre a criadora da técnica de bronzeamento com fita isolante. A amiga retribui: “Essa menina mudou a minha vida, sabia? Depois de ‘Vai, Malandra’, fiquei tão conhecida que não vou mais às comunidades. As pessoas vêm até mim”, conta. “Só não saí ainda de Realengo por causa do colégio da minha filha. Dinheiro já tenho”. Anitta interrompe a conversa: “Ai, gente, será que vai estar cheio? E se ninguém aparecer? Sempre morro de medo disso. Até nos shows com ingressos esgotados, acredita? Já imaginou uma dor de barriga coletiva que impeça as pessoas de ir?”
A pergunta não faz sentido, mas demonstra um raro momento de fragilidade do furacão de 24 anos. No mais, Anitta é uma máquina. Dá ordens (sem gritar) a toda a equipe, faz cada um dos amigos famosos se sentir especial e fala o tempo todo com o marido, Thiago Magalhães, por mensagens de voz. Ao mesmo tempo, faz os últimos ajustes na roupa (ou melhor, na fita isolante) e cumpre os exercícios propostos pela fonoaudióloga Valeria Leal, grife entre cantores que levantam multidões nos trios da Bahia.
“Nesse carnaval, fiz oito shows em sete dias. Sabe qual é o truque para aguentar a maratona? Nenhum. Só como umas panquecas maravilhosas que trouxe de Los Angeles, um pacote de biscoito recheado por dia e cumpro as ordens da Val”, diz, enquanto inala soro fisiológico por uma espécie de vaporizador. Ao lado do aparelho, a fono segura um celular que dá as notas que a cantora precisa atingir: “Blau, blau, blau”, obedece Anitta, afinada no meio do falatório. “Pau, Pau, Pau” desvirtua Jojo Todynho, jogada sobre a cama do quarto.
Metralhadora de palavrões, a autora de “Que tiro foi esse” não consegue disfarçar o sono. Na van que leva os artistas do hotel até o bloco, no Centro, anuncia que não pregou o olho à noite e mal teve tempo de se lavar. Dentro do carro de som, pega emprestada a blusa da fonoaudióloga, cobre o rosto e dorme das 9h às 11h10, quando o staff de Anitta, já com duas horas corridas de show, começa a se preocupar com a demora da Jojo em subir ao palco.
Tudo na jornada de quatro horas e meia de bloco é impecavelmente calculado. Anitta não permite falhas. “Nem posso, né, amor?”, ironiza. “Cadê o microfone? Olha lá: o show pra começar e tem gente sem fone de ouvido, conversando. Depois eu dou o cuspe do dragão e vocês não sabem o porquê”. Em segundos, o microfone aparece e a cantora esmerilha. Canta, dança, faz merchand no celular com o salgadinho do patrocinador, abraça as amigas famosas, conversa com o diretor musical e ainda avista um ladrão no meio da multidão: “Epa! Roubaram o celular daquela senhora ali. Foi o menino de cabelo vermelho. Não faz isso”, diz, enquanto o garoto, em vão, tenta se esconder. “Do mesmo lugar que vocês vieram, eu vim. A Jojo Todynho e o Nego do Borel vieram também e não saíam pegando nada de ninguém. Quem não teve as mesmas oportunidades tem que ralar mais”. Melhor recado, impossível.