Preparo físico é apenas um dos quesitos que os cantores que se arriscam a assumir um trio elétrico em Salvador precisam ter para aguentar mais de cinco horas pulando. O dom de cantar é genuíno, mas não há garganta que aguente o esforço sem preparação. O que pouca gente sabe é que existem profissionais por trás disso para fazer o “treinamento” pré, pós e durante o show.
Valéria Leal, fonoaudióloga especialista em voz, comanda uma equipe de profissionais que auxiliam artistas de peso como Alinne Rosa, Beto Jamaica, Anitta, Tomate e Margareth Menezes. Em cima do trio de Alinne Rosa, a profissional fica de olho para o artista seguir à risca todo o processo.
“Não existe isso [cantores cantarem durante cinco horas seguidas] fora do Brasil, é muito nosso, em qualquer lugar do mundo vão dizer que isso é incompatível com a saúde vocal. Trabalho há 18 anos com isso e a gente faz um protocolo de canto de longa duração que tem aquecimento, desaquecimento, terapia, drenagem linfática na laringe e muito mais coisas. Fazemos exercícios em cima do trio com intervalos de dois a três minutos, o público nem percebe, mas não podemos deixar a voz declinar. Eu digo que o cantor de trio pode ser comparado a um cantor de ópera”, explicou Valéria.
A profissional relata que já viu muita gente sem treinamento não aguentar um circuito todo e que vários artistas tiveram sua primeira chance de cantar ao público substituindo cantores sem voz durante o trajeto.

A fonoaudióloga Valéria Leal prepara a voz do cantor Tomate para a maratona de shows no Carnaval de Salvador
“Antigamente, quando não tínhamos uma técnica desenvolvida, era muito comum o cantor perder a voz em cima do trio. A primeira oportunidade de Daniela Mercury foi quando ela ainda era backing vocal de Ricardo Chaves, ele perdeu a voz no meio do percurso e pediram para ela ir para frente e cantar, ela foi só animar a galera e o público gostou. Já aconteceu isso com muito mais gente”, contou Valéria.
Anitta, que deve desfilar seu “Bloco das Poderosas” no dia 13 de fevereiro no Rio de Janeiro, terá o acompanhamento de Valéria para continuar afinada cantando seus hits como “Bang” durante a folia.
“O meu trabalho é dar segurança para o artista e a produção toda que é feita, essa vitrine que eles têm nesta época do ano. A Anitta nunca tinha feito um trio e no ano passado ela teve que puxar o trio por cinco horas e meia, teve uma preparação, fez tudo com a voz ótima do começo até o final. Vamos acompanhá-la no Rio de Janeiro neste ano”, disse.
A profissional explica que sem um preparo apropriado, o cantor pode causar danos irreparáveis para a sua voz em uma única apresentação.
“Mesmo que a pessoa tenha uma técnica vocal, seja afinada, é um risco fazer sem acompanhamento pela quantidade de horas que ela vai cantar. Acontece que a qualidade vocal declina, ele começa a ter dificuldade de alcançar nota, desafina, não consegue se ouvir direito, vira uma confusão. O maior inimigo de cantor de trio é um edema, a fadiga vocal, se nada for feito pode haver um colapso e ele perder a voz de vez”, alerta Valéria.
Fonte: UOL